terça-feira, 20 de maio de 2008

O Cristo Morto, Hans Holbein

"A ideia de estar em Florença e a proximidade dos grandes homens de quem tinha visto os túmulos já me tinham posto numa espécie de extâse. Ali, absorvido na contemplação da beleza sublime¸ aproximei-me dela e como que a toquei. Atingi esse estado de emoção que permite as sensações celestes¸ essas que só as belas-artes e os sentimentos apaixonados podem dar. Ao sair da catedral¸ o coração batia-me com muita força e senti-me esvair¸ tive medo de cair no chão. Tive de me sentar num dos bancos da Praça (...) Precisava da voz de um amigo que partilhasse a minha emoção".
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Um comentário:

Unknown disse...

Quando, acompanhado de sua mulher Ana, Dostoiévski deparou-se com o quadro "Cristo morto", de Hans Holbein, o Moço, no Museu da Basiléia, escrever o romance "O idiota" foi imperativo. Reza a lenda que Dostoiévski, extático, não conseguia sair de perto do quadro, à beira de um ataque epiléptico. Chegou mesmo a subir numa cadeira, sob risco de multa, para contemplá-lo melhor. Visto em detalhe, esse Cristo não é uma figura sobrenatural, mas, ao contrário, um corpo cuja beleza é feita de decomposição. Um deus engavetado no IML, humano, demasiado humano: "um animal imenso, desalmado, mudo (...) uma máquina imensa da mais moderna construção que, estúpida e insensível, agarrou, esmagou e engoliu um grande Ser precioso, um Ser digno de toda a natureza e de todas as leis, digno da terra inteira, que foi criada talvez unicamente para o aparecimento desse ser" (Em Joseph Frank, Dostoiévski - Os anos milagrosos: 1865-1871, trad. Geraldo Gerson de Souza, São Paulo, Edusp, 2003, p. 299).